sábado, 30 de maio de 2009

La pared -- Shakira

Am G Am G
Eres como una predicción de las buenas
Am G Am G
Eres como una dosis alta en las venas
F G C
Y el deseo gira en espiral
Em F G
porque mi amor por ti es total y es para siempre

CORO:
Am C Bm
Después de ti, la pared
E
no me faltes nunca
Am C G
debajo, el asfalto y más abajo estaría yo
Am C Bm
Después de tí, la pared
E
no me faltes nunca
Am C G /Am G X2 (O INTRO)
debajo, el asfalto y más abajo estaría yo sin tí


Am G Am G
Eres la enfermedad y el enfermero
Am G Am G
ya me has convertido en tu perro faldero


F G C
Sabes que sin tí ya yo no soy
Em F G
sabes que a donde vayas voy... naturalmente

CORO:
Am C Bm
Después de ti, la pared
E
no me faltes nunca
Am C G
debajo, el asfalto y más abajo estaría yo
Am C Bm
Después de tí, la pared
E
no me faltes nunca
Am C G [/Am G X2 (O INTRO)]X2
debajo, el asfalto y más abajo estaría yo sin tí

quinta-feira, 21 de maio de 2009

O Baleiro

Estico o braço e estendo os dois dedos. Checo o relógio enquanto penso “bem na hora”. O ônibus pára; ainda bem que não está cheio, é possível até sentar-me. Pego, como de costume, o meu livrinho de bolso e embebedo-me daquele romance... às vezes paro apenas para imaginar a cena, para me deixar levar por uma leve e duradouramente rápida viagem da minha imaginação. Neste meio tempo, entra um menino vendendo balas.

O menino não tem nada de diferente de todos os outros. Usa aquela camisa verde escura com um número, é magro, mulato e mal cheiroso. Abaixo o rosto e finjo que estou lendo, quando, na verdade, estou escutando o seu pranto: “Um é dez, seis é cinquenta, quinze é um real! Promoção!”. Este pranto me invade, me estupra, me violenta, me rouba, me envenena, me envergonha. Olho ao redor e percebo que a maioria das pessoas também o ignora. Alguns são capazes até de debochar do pobre garoto, falando “podia tá roubano, podia tá matano, mas eu tô vendeno bala”. Isto, claro, seguido de gargalhadas. Olho com o maior desprezo do mundo para esses e todos aqueles que ignoram o garoto. Afinal, por que estão ignorando? Poderiam simplesmente falar “não, obrigada”, mas, não... eles ignoram. Fingem que não vêm o menino. Meu desprezo é tão grande que chego a ter quase nojo dessas pessoas. Levanto a cabeça e olho para aquela figura. Uma surpresa, não consigo.

Mal me dou conta de que quem eu mais desprezo, quem eu chego a ter mais nojo, na verdade, não passa de mim mesma. Eu tenho que abaixar os olhos e ignorar. Eu sinto necessidade. Eu sinto vergonha. Ele me mostra uma realidade que contrasta com a minha, o Brasil que não conheço, o Brasil que a maioria simplesmente faz como eu, abaixa a cabeça e ignora. Não posso sorrir e dizer “não, obrigada”, estaria sendo falsa. Este baleiro me incomoda. Ele me angustia. Me envenena com o meu próprio veneno. Me mostra que, na verdade, não sou nada, absolutamente nada do que prego em um ser. Este menino me assombra... ele me mostra... a mim! Começo a me sentir sufocada! Não há nada nem ninguém para me consolar, para tirar o baleiro da minha frente e me dizer que o mundo é colorido, não há nada além da mais pura verdade. Sou obrigada a encarar isso, mas sou fraca... Aqueles trabalhos sociais que faço são apenas sociais no nome. São todos uma farsa para alimentar a minha alma, para alimentar o desejo mesquinho de querer ser a boa samaritana da história. Será que a ajuda que presto não passa de um desejo egoísta? Não sei mais se ajudo para satisfazê-los ou para aquetar-me o coração e, nessas horas pensar “eu faço a minha parte, já ajudo muitas pessoas”.

O menino repete mais uma vez “Promoção!” e sua voz vai morrendo. Ninguém dá espaço, ninguém dá oportunidade, ninguém é capaz de olhá-lo, apenas olhá-lo. Não compreendo, tento olhá-lo de novo. Seus olhos são curiosos, provavelmente estão se perguntando se quererei a promoção, se ele voltará com um pouco mais de dinheiro para casa. Eu me sinto afrontada. Por que ele me encara? Não vê que dele nada quero, nem mesmo a presença? Os meus eus entram em conflito e, internamente, me travo uma guerra entre a parte que acredita ser solidária e a parte que acredita ser uma farsa. Uma parte de mim quer sentar ao seu lado, quer conversar com ele, acordar às 4 da manhã com ele para vender esses doces, entrar na sua rotina, sabê-lo, abraçá-lo, acolhê-lo, amá-lo. Esta parte acredita que o que falta no mundo é amor, o amor pela vida, pelas pessoas, pelos simples gestos, como um olhar. A outra, quer escondê-lo, tirá-lo dali o mais depressa possível. Para esta parte, ele representa tudo aquilo que eu não quero ver. Para esta parte, ele é como um ataque de asma. Me faz perder o fôlego lentamente, me tortura. De repente, com pouco ar, meu coração grita, quer pular pra fora, quer fazer algo e me mostrar que a vida tem valor. O trabalho social é a minha bombinha. Não é a solução, mas ameniza temporariamente o meu pavor.
Talvez ele saiba que causa essa impressão em mim e nas pessoas. Talvez, por esse motivo, ele venda balas. Para adoçar a vida de alguém, para nos iludir, pensarmos que a nossa vida é doce. Talvez a bala seja a bombinha de alguém. E talvez este seja o seu trabalho social.

Percebo que pobre, sou eu. E pobre da pior pobreza do mundo, a de espírito. Eu, frustrada, me enterro. Ele, frustrado, desce do ônibus. Mal vendera os seus “queimados”, mas ainda dá tempo de pegar o ônibus da frente. Eu respiro aliviada, trava-se uma trégua em mim.