sexta-feira, 10 de julho de 2009

Decepção

É engraçado como a pessoa pode por tudo a perder por apenas um gesto. Um simples gesto pode mudar toda a situação e a relação estabelecida entre duas pessoas.

Você sempre será aquela pessoa que fez aquilo... Como Andrade.

Andrade foi uma amiga que eu tive. Ela é linda, super legal, inteligente, conhece bastante de filmes, música... uma pessoa admirável. Passei praticamente 7 meses adorando-a, colocando-a num pedestal. Tudo o que ela falava era um complemento na minha vida; a ver tornava o meu dia maravilhoso, eu a seguia como uma discípula.

Lembro que um dia eu fui roubada descaradamente e, após vê-la, eu ri do acontecido.

É, Andrade era a minha fuga, o meu achado que ninguém podia tirar do meu coração, só ela mesma.

Até que um dia Andrade resolve roubar. Não sei se foi influência do momento, se era uma experiência que ela queria sentir, se precisava daquilo. Não sei. Só sei que o fez. Roubou uma capinha de iPhone. Ela tinha acabado de comprar o seu e precisava de uma capinha. Entrou na loja e viu que uma das embalagens estava aberta. Pegou-a. Olhou para os vendedores. Estavam muito distraídos com outros clientes. Olhou para as câmeras. Estas não focavam onde estava. Olhou para o Bulldog - amigo em comum. Ele lhe deu forças com os olhos. Ela, abriu a embalagem, pegou a capinha e, no mesmo instante que devolveu a embalagem já vazia para a prateleira, colocou a capinha na bolsa.

Eu estava perplexa. Não poderia ser Andrade que havia feito aquilo. Não, não ela. Ela não precisava roubar. Ela não necessitava roubar. Onde está aquela menina encantadora que há 2 segundos se encontrava parada na minha frente? Minha voz,quase falha, saiu com um imenso esforço:

- Você não...? Não acredito nisso. Você...?
- Ai, Fernanda, que besteira. Deixa disso e vamos sair logo daqui! - respondeu Andrade como se o que tivesse feito fora tão simples e normal como tomar um suco de canudo.
- Como assim? - disse ainda incrédula - você não vai pegar isso e simplesmente pôr na sua bolsa, vai?
- E o quê que tem? - disse ela com o maior descaso.

Eu estava chocada. Mal podia me mecher. Andrade e Bulldog começaram a sair da loja e eu fui atrás.

- Andrade, devolve. Você não precisa disso. Qual o problema em pagar? Dinheiro você tem, e eu sei que você tem.
- Ah, não tô afim não. E, agora, como é que eu vou por a mão dentro da bolsa para tirar? - e continuou andando para sair da loja
- Do mesmo jeito que você pôs a mão dentro da bolsa para roubar! Isso é roubo! O que aconteceu com você?
- Nada! - e riu para Bulldog!
- Essa aqui tá ficando velhaca! É das minhas! - Disse Bulldog com o maior orgulho.
- Andrade! Você não era assim! - repliquei - Onde estão os seus princípios? A sua moral?

E, como num jogo de xadrez, no instante do cheque-mate, ela me respondeu:

- Os meus princípios e a minha moral me permitem fazer isso.

E saiu da loja.
Eu mal podia acreditar no que via e ouvia. Fiquei atonita.
E partiu. Partiu da loja, do meu coração, o meu coração.
Agora, ficar ao seu lado me angustiava. Eu não estava mais ao lado da amiga que por tanto tempo me deu bastante suporte. Aquela era outra pessoa. O ar ao seu lado era pesado.

Eventualmente, voltamos a nos falar sem aquele clima estranho no ar, mas, para mim, a minha Andrade havia morrido.

E assim, tudo o que ela foi, tudo o que ela representou para mim se destroçou amiúde no meu desespero das palavras proferidas no dia em que Andrade roubou.

Um comentário:

  1. que depressao.
    rapaz, eu só digo uma coisa: cada um sabe de si.
    e digo mais outra coisa: tudo o que vai VOLTA.
    cuidado 'andrade' ;)

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