sábado, 20 de março de 2010

Por estarem bêbados

A terceira tequila entrou com tanta facilidade que mal pode lembrar da dificuldade da primeira. Ele, ao seu lado, só fazia rir e pediu um absinto.
Hoje é dia de loucura.

Voltaram para o grupo inicial e recomeçaram a dançar. O flerte pré-estabelecido era maquiado pela constante lembrança da amizade, amizade esta nunca realmente efetiva.

Há muito que queriam se tocar sem a pressão dos garotos da rua. Eram eles que tinham estragado o flerte e o tornado em amizade. E era por isso que a amizade nunca existiu.

Mas, aquela noite, os garotos da rua não apareceram. E a bebida serviu de desculpa para qualquer ação tola e supostamente inconsciente. No fundo, cada um sabia que não estava bêbado, mas assim quiseram pretender para poder usar como desculpa.

Ele veio dançar com ela. Ela chamou a outra por vergonha de estar sozinha e ele descobrir que ela queria. Enquanto se moviam, suas mãos se esbarravam e eles fingiam mais uma vez não perceber. E então, ele se virou para ela. Agora eram apenas ele e ela. Ela abaixou os olhos e tentou conter o sorriso. Viu, então, que ainda havia dois dedos de absinto no copo de gelo dele. Virou e, nesse lance, o mundo girou e ela se enclinou para frente - pela primeira vez inconsciente - e ele a segurou. Sentiu a respiração quente dele no seu pescoço e seu coração, acelerado, começou a fazer mais barulho que a música do Dj. Fez um esforço imenso para sair dali, para não "estragar a amizade", mas este esforço só fez suas boxexas febris se encontrarem com as dele.

É agora.
Viraram lentamente o rosto até que os lábios ficassem a 5 milímetros um do outro.
Não se beijaram. Não se moveram. Apenas sentiram o sangue passando pelas mãos já entrelaçadas, o forte batimento dos corações que, de tão colados, já formavam um.
Aos poucos, se afastaram e, desconcertados, continuaram a dançar, dessa vez com outras pessoas. Mas ambos, plenamente felizes por seu momento. Uns instantes de segundos eternizados que ninguém nunca arrancariam das suas almas.


*inspirada por Lispector*

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